Close Menu

Busque por Palavra Chave

Arte & manhas | A respeito de voos, pássaros e passarinhos

Por: Luís Bogo
06/04/2023 16:40

Voar é para os pássaros, que têm penas e ossos leves. Talvez fosse possível aos anjos, mas não sei de ninguém que tenha visto algum até hoje em sã consciência. Talvez até existam para puxar nosso braço quando nos aproximamos dos bueiros que levam ao subterrâneo.

Pássaros podem nos atacar, como no filme de Hitchcock. Porém, podem pousar em nossos dedos como se suas unhas tivessem a delicadeza das suas plumas. Meu amigo Jayme Rocco confessou-me há pouco que já foi amigo de todos os dias de uma calopsita. Disse-me que elas são inteligentes e sentimentais, mas chegou a hora que o gato a comeu. Assim, mesmo que tivéssemos asas e turbinas, precisaríamos continuar atentos aos pousos, pois sempre pode haver uma serpente na macieira ou um gato no hangar.

Pássaros sempre foram espelhos de sonhos (com exceção daqueles de Hitchcock). É bom acordar com eles fazendo algazarra no jardim. É bom olhar para a rede elétrica e ver que, além da luz, ela dá repouso aos pardais e até a cegonhas, como observei em Portugal.

Os pássaros nos encantam com seus cantos, com suas cores, pela capacidade de ir e vir em plena liberdade, enquanto polinizam hortas e jardins, enquanto interferem no terroir das vinhas, agregando sabores às uvas que irão nos inebriar anos depois.

Embora alguns desconheçam, a diferença entre pássaro e passarinho é o tamanho destes seres plumados: pássaro é grande e passarinho é coisa pequena. Lembro-me agora de um poema bem curtinho do Mário Quintana que dizia assim: Todos esses que aí estão // Atravancando meu caminho, // Eles passarão... // Eu passarinho!

São apenas quatro versos, mas que nos trazem a mensagem de que todos os nossos problemas não passam de questões efêmeras, passageiras, que podem até balançar, mas não derrubar nossos poleiros.

Neste sentido, acredito que talvez poeta e coruja se pareçam. Em rápidas ações, eliminam serpentes e ratos reais ou imaginários. Depois retornam para suas torres, onde não há comida nem bebida, apenas privilegiada visão do mundo.

Talvez se pareçam, também, por não assimilarem luz exagerada. Sobrevivem nas sombras, detectando o que acontece no mundo enquanto boa parte do mundo ainda dorme, preparando-se para mais um dia em que não prestará atenção às cores das plumas, ao canto do bem-te-vi, às cores das saíras ou ao sobrevoo do urubu, este ser injustiçado que livra nossos pastos e estradas de uma infinidade de carniças.

O fato é que o planeta precisa preservar seus botos, baleias, lobos, elefantes, árvores, pássaros, passarinhos e poetas. A extinção de cada um destes animais (ou de qualquer outro) levará à inevitável extinção da raça humana. É apenas uma questão de tempo.


Semasa Itajaí
São José - Maio
Unochapecó
Rech Mobile
Publicações Legais Mobile

Fundado em 06 de Maio de 2010

EDITOR-CHEFE
Marcos Schettini

Redação Chapecó

Rua São João, 72-D, Centro

Redação Xaxim

AV. Plínio Arlindo de Nês, 1105, Sala, 202, Centro